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quarta-feira, 25 de março de 2009

Quem vai pagar pelos meus sapatos novos?

Esperar que tudo ocorra de forma perfeita em um evento é ser muito positivo, já que este está sempre sujeito a ter problemas de última hora, além, é claro, das falhas humanas, afinal qualquer um está sujeito a elas. Não é fácil organizar algo desse tipo, pois são muitas as preocupações, muitos os detalhes, portanto é fácil um ou outro ser esquecido ou legado a segundo plano.
Agora, quando dá tudo errado é porque provavelmente houve negligência de uma ou mais pessoas, a cuja função seria a de organizar. Falo aqui da apresentação da banda inglesa Iron Maiden, realizada no dia 15 deste mês no Autódromo de Interlagos. Eu já havia estado no local, exatamente 10 anos atrás, no show do Kiss. Na época, já foi possível notar que lá não era bem o lugar ideal para a realização de um evento de tal porte. Não digo isso pela distância que fica do resto da capital, até porque o acesso não é de todo dificil – um trem deixa seus passageiros a pouco mais de 10 minutos da entrada principal do grande palco de corridas de São Paulo. O tamanho da pista para o público também não tem como reclamar: é provavelmente a maior entre as poucas opções de espaço para concertos grandiosos que temos na cidade. É realmente imenso! – mais de 60 mil pessoas, de acordo com fontes diversas.
No distante ano de 1999, ainda no século passado, já era perceptível a péssima acústica que o autódromo – totalmente aberto – possuía. Que o espaço, em forma de vale, com o palco na parte mais baixa possível, era impossível de ser coberto por alguma proteção no chão para o caso de chuvas. Que uma única entrada de acesso é pouca coisa quando mais de 40 mil pessoas são esperadas para ingressar em algum evento.
Lembro-me que no Kiss muita gente só conseguiu entrar quando da execução da 3ª música do show, fato que deveria ser um crime, uma vez que, muitas destas, chegaram a fica 3, 4 horas na imensa fila, pagando preços muitas vezes absurdos pelo ingresso. Tudo isso em 1999...dez anos atrás!
Quando eu soube que o Iron Maiden tocaria no mesmo lugar dos norte-americanos, logo tive a premonição de que as mesmas besteiras seriam feitas na organização. Mas, desta vez, foi muito pior!
A começar pelo clima, que não ajudou: duas horas da tarde iniciou-se uma chuva torrencial, a qual teve provavelmente duração de 1 hora, fazendo da pista interna um verdadeiro lamaçal na hora do evento. Meu tênis preto, comprado em dezembro, tornou-se marrom. Camiseta, bermuda...nem a cueca escapou da sujeirada incessante.
A falta de entradas de acesso para o público – havia apenas um portão aberto para isso – foi outro enorme percalço. A fila, 40 minutos antes do horário programado para a “besta”, como é conhecida a donzela de ferro, adentrar ao palco, era terrivelmente assustadora: por mais de 2 quilômetros, ela se estendia repleta de jovens de preto agonizados pela possibilidade de perder parte do evento ao qual juntaram, durante meses, o dinheiro necessário para ir.
O som, mais uma vez, estava um tanto sofrível. Em muitos momentos, o canto do público se sobressaía sobre a potente voz de Bruce Dickinson e o acompanhamento de seus companheiros de banda. Não que os fãs estivessem com vozes tão potentes, os alto-falantes é que cantavam baixo mesmo.
A saída foi outra piada: o público ficou penando mais de uma hora para achar o caminho que os levaria de volta para casa. A falta de organização chegava a ser engraçada, apesar de lamentável, porque os fãs não sabiam pra onde ir, os seguranças e monitores não sabiam aonde indicá-los, tornando as mais de 45 mil pessoas, de acordo com a organização, em clones de baratas-tontas, indo de um lado para o outro sem rumo – isso sem contar o desgraçado barulho dos pés caminhando na lama, que, de tão alto, chegava a dar agonia – como bem ilustrou um amigo meu, pareci com uma descrição do inferno. Graças à imensa fila, citada dois parágrafos acima, o evento foi atrasado em mais de uma hora, o que fez com que, somada à bagunça para deixar o local, a maior parte das pessoas conseguisse chegar à rua somente depois da 0:00h – horário em que os trens já não mais funcionavam, fato que levou muita gente a ter de pagar um táxi para voltar para casa, ou, se sem dinheiro, dormir na rua.

Mas e o show?
Gostei muito da matéria publicada pelo amigo e jornalista Marcelo Freire , na Folha OnLine – para quem tiver interesse: http://guia.folha.com.br/shows/ult10052u535284.shtml . De fato o Maiden fez um show fantástico, com produção de palco impecável, cheiode pirotecnias. O público estava também mais calmo do que o normal - não sei se por medo de cair no lamaçal ou por estar tão impressionado com a qualidade da pirotecnia e daqueles tiozões de mais de 50 anos correndo pra lá e pra cá, fazendo com que todos tivessem a oportunidade de ter uma boa visão do palco – pois não vi, de onde eu estava, e era bem próximo à grade, nenhuma “roda” ou “bate-cabeça”, práticas comuns em eventos do gênero, e que costumam atrapalhar, ao menos aos que desejam apenas assistir à apresentação.
No final, foi possível ver todos saindo com um grande sorriso no rosto, satisfeitos pelo dinheiro bem gasto no evento, a despeito de toda a palhaçada ocorrida antes e depois de sua realização. Tudo o que uma pessoa quer quando investe sua grana em um show como esse é, simplesmente, assisti-lo. Sabendo disso, parece que os organizadores esquecem que lá na pista estão trabalhadores e estudantes que merecem respeito e um mínimos de dignidade. Quanto foi o lucro dos promotores? 4? 5 milhões?
Talvez um pouco menos de egoísmo por parte destes com os próprios luxos, um pouco menos de “eles vão pagar pra ir de qualquer jeito!” ou “Não precisa caprichar tanto!”, pudessem dar ao concerto uma conotação mais positiva em meio à imprensa e aos próprios fãs, já que o show em si, foi sim, muito bom. O que virou notícia de verdade, aquilo que virou destaque nos jornais e portais foi mais os inúmeros problemas ocorridos, do que a apresentação do Iron Maiden propriamente.
Lamentável!

http://www.youtube.com/watch?v=frJU742cLyU

Uma amostra da situação lamentável do local do evento

Neste link, está publicada a carta da organização, que procura explicar as atrapalhadas que aconteceram no concerto: http://whiplash.net/materias/news_877/086101-ironmaiden.html

PS: De tão clara que estava a bagunça no local, o próprio vocalista da banda, Bruce Dickinson, pediu desculpas por pelo menos duas vezes por esta. O que fica, mais uma vez, é uma imagem negativa do Brasil para com nossos amigos estrangeiros. Não que liguemos tanto pra isso: se houvesse uma organização decente, com todos sendo devidamente respeitados, já estaríamos bastante satisfeitos.

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