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quinta-feira, 16 de abril de 2009

Imortais do Rock - entrevista com Edu Falaschi, vocalista do Angra

As bandas clássicas parece que não morrem: Kiss, Iron Maiden, Motörhead, Judas Priest, entre outros dinossauros do rock, aparentemente não tem membros feitos de carne e osso como somos nós, reles mortais. Recentemente, fiz uma entrevista com o vocalista da banda paulistana Angra - provavelmente o maior nome em termos de rock pesado no Brasil - para o jornal Diretriz sobre este assunto, e achei um desperdício não publicá-la, já que as declarações do cantor são muito interessantes e até surpreendentes.
Portanto segue, na íntegra, aquilo que Edu Falaschi - um cara muito gente boa - pensa sobre os "imortais" do Heavy Metal, e, de quebra, ele comenta sobre a nova turnê de sua banda principal - ele também canta no Almah - junto com o Sepultura, que chegará a São Paulo em maio. Está muito legal! Espero que vocês achem o mesmo:

Por que as bandas antigas, como Kiss e Maiden, trazem cada vez mais público para seus shows no Brasil. O próprio A-ha, que toca em lugares pequenos no exterior, quando vem pra cá sempre faz show lotados. Existe alguma coisa especial nos fãs brasileiros?

EDU FALASCHI: Infelizmente, é a cultura do brasileiro IDOLATRAR tudo que vem de fora, cansei de ver artistas do qual a carreira "é inexistente" no exterior, como "Double You", "Mafalda Minoze", "Richie", "Information Society", etc, e aqui é um tremendo sucesso. No caso do Maiden, essa banda é um fenômeno, lota estadios no mundo todo, quanto ao Kiss, o hiper "MARKETING" de suas atividades o transformou numa lenda viva, porém, a venda dos ingressos no Rio de Janeiro por exemplo está sendo ridicula, cerca de 3500 ingressos na primeira semana de abril. Mas devo confessar q a industria da música está em transição e no olho do furacão. Tudo é incerto e não existe ainda uma luz no fim do tunel realmente significativa. Mas independente de tudo o que falei, o melhor público pra shows do mundo é o brasileiro sem dúvida e digo isso com propriedade depois de tocar em quase todos os continentes.

Por que as pessoas se apegam tanto às bandas antigas? Bandas novas causam muito menos impacto nelas? - exemplo: Oasis ou o Simple Plan, que, anos atrás, tocaram para mais de 20 mil pessoas, irão tocar agora para 5, 6 mil, e bandas como Maiden, ou o Kiss, que nem disco lança há mais de 10 anos, parecem tocar para cada vez mais gente.

EDU FALASCHI: Eu não diria "bandas antigas", o Oasis também é velho. Meu ponto de vista é que no caso do Metal existe algumas coisas q não tem praticamente nos fãs de outros estilos, FIDELIDADE, PAIXÃO, DEDICAÇÃO. Nos outros estilos o cara não cria um conecção de alma com seu idolo, um dia é fã na outra semana já esqueceu, por conta de outra banda. No Metal naum, é pra toda vida, hámuito em jogo, SONHOS e ILUSÃO, por exemplo. Muitos dos fãs das bandas de Metal tocam instrumentos e tem suas próprias bandas. É como um grande "clã", uma nação altamente fanáica e apaixonada. O mais próximo do sentimento q abita o fã de metal q me lembro, é a paixão por um clube de futebol.

Você acha que essas bandas antigas ajudam a manter o rock pesado sempre funcionando? O que você acha que pode acontecer com o meio quando estas não existirem mais? Por que é tão dificil substitui-las?

EDU FALASCHI: Esse é o grande problema com a internet. Para se criar uma grande banda, um icone de verdade, uma lenda, é necessário muita grana, propaganda, marketing, midia, turnê mundial, etc. Um estrutura enorme q envolve milhares de pessoas. As gravadoras forneciam isso. Hoje em dia com a morte decretada de praticamente TODAS as gravadoras, será impossível criar ICONES. Isso não vai mais existir. Não se iludam aqueles que pensam que com um myspace ou site, ou blog, ou o que quer q seja na internet, mesmo que com 10 milhões de "page views", vai alcançar o nivel de estreato das bandas de outrora. Isso nunca mais vai acontecer. Tudo será rapido e descartável, os artistas futuros serão numa semana, "ROCK STAR" ou "POP STAR" e no fim do mês voltarão para seus antigos empregos.

Você acha que a reunião dessas bandas é por uma vontade, um tesão em voltar a tocar, ou elas estão apenas querendo ganhar uma grana a mais em cima dos sedentos fãs - bandas como Van Halen, Twisted Sister. Como é possível pessoas que se odeiam - como dizem ser a situação entre Steve Harris e Bruce, no Maiden - conviverem juntos na estrada?

EDU FALASCHI: É 100% dinheiro. Isso não existe de voltar por que sentiu saudades e se arrependeu das brigas do passado, ou pela música, hahaha, isso não existe. Só um completo idióta pensaria q o motivo é a música. O fato é que antigamente todos esses ex-aposentados viviam em suas mansões as custas de "Direitos Autorais" de obras e sucessos antigos. Com o completo fracasso nos recolhimentos de direitos autorais entre outros, todos os envolvidos, editoras, gravadoras, músicos, associações, etc. Se viram num "completo e sombrio deserto". Dessa forma a única maneira desses "dinossauros" conseguirem manter seu padrão de vida é fazendo shows. De certa forma isso é bom, "bora trabalhar macacada"!

Para terminar: o Angra e o Sepultura anunciaram há pouco uma turnê conjunta pela América LAtina. Como surgiu essa idéia, e qual a sua expectativa, e a das bandas envolvidas no geral, quanto a esses shows?

EDU FALASCHI: O Angra conta hoje em dia com a Monika Bass para vender os shows da banda, ela por sua vez é empresária do Sepultura, daí nos apresentou essa idéia e a gente achou bacana juntar pela primeira vez na história as duas maiores bandas de metal do Brasil. Estamos anciosos pra voltar pra estrada depois de quase 2 anos sem tocar com o Angra.